domingo, julho 16, 2006

"-Adeus, disse à flor.
Mas ela não respondeu.
-Adeus, repetiu.
A flor tossiu. Mas não era por causa da constipação.
-Fui uma tola, disse-lhe por fim. Perdoa-me e procura ser feliz.
Surpreendeu-o a ausência de censuras. Permanecia ali, todo confuso, com o globo na mão. Não compreendia aquela suavidade calma.
-É certo, amo-te, disse-lhe a flor. Por minha culpa não soubeste nada. Isso não tem importância alguma. Mas tu foste tão tolo como eu. Procura ser feliz... Pousa essa redoma. Já não a quero.
-Mas o vento...
-Não estou constipada com isso... O ar fresco da noite vai fazer-me bem... Sou uma flor.
-Mas as feras...
-Se tiver de suportar duas ou três lagartas, para chegar a conhecer as borboletas, não faz mal. Dizem que é tão bonito. Senão, quem me há-de visitar? Estarás longe, tu. Das feras maiores não tenho medo nenhum. Tenho as minhas garras.
E mostrava ingenuamente os quatro espinhos. Depois acrescentou:
-Não te demores mais, é irritante. Decidiste partir. Vai-te embora.
É que não queria que ele a visse chorar. Era uma flor tão orgulhosa."


O Principezinho
Antoine de Saint-Exupéry


1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É impressionante como o que outros disseram pode, por vezes, caracterizar tão bem o que sentimos e vivenciamos.
Por mais que se pense que o que se sente é único, existe um pano de fundo semelhante (não fossemos nós pertencentes a uma mesma espécie e dotados de mecanismos análogos)que permite o estabelecer de relações. Talvez essas relações sejam fruto de uma ausência de originalidade, da inevitabilidade de se interpretar ou, simplesmente, mera coincidência...

É um excerto fantástico.

10:52 da tarde  

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