"«Concedo-vos um só desejo» disse por sua vez
«Que eu escolha mais que vós» retorquiu de volta
«Sois então imortais, e todos os outros demais»
«Estais enganado...»
«Sei-o bem... Tornava por engano vos dar...
Mas agora olhos vejo
e olhos de tartaruga são...» disse de seu turno
«Pois bem... assim o repito.
Decisão de conjunta deliberação
Longa mas harmónica
Sensatez concedemo-nos primeiro
como qualquer animal de são instinto
Que concebido com juízo tenha sido...»
«Mostrai bem em vossas virtudes
a vontade do desejo e, embora de justiça desconheça, verdade sei-a agora.
Cedo-vos de surpresa
Pois criando em Terra tais seres,
Nenhum outro detém por sabedoria
a distância a seu leito
e assim por seus prazeres,
da morte, decerto, fugiria, mesmo em carapaça fria...»
«Carapaça é-nos memória,
Mais nenhuma outra história...
Não é de jeito um pedido este... Pois direito deu-nos
a nós, o Mundo, primeiro... Se a vida sofre de sozinha,
benvinda foi sua alegria, que nos aguarda em sono nosso,
fazendo do fim nosso espaço,
como se dum princípio se tratasse...»
«Graças vós, animais. Felicidade incrédula que trazeis,
E nenhuma outra criatura respeitarei
Mais que a que seu fardo suporta
Diante todos sóis e luas
Que o tempo assim transporta.»"
Marta Cutileiro
Deus e as Tartarugas