segunda-feira, outubro 31, 2005

"[...] Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos mundo?
[...] De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...

[...]
Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar...

[...] Se queres matar-te, mata-te...
[...] Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?
[...]
Dispersa-te, sistema fisico-químico
De células nocturnamente conscientes
Pela nocturna consciência da inconsciência dos corpos,
Pela relva e a erva da ploriferação dos seres,
Pela névoa atómica das coisas,
Pelas paredes turbilhonantes
Do vácuo dinâmico do mundo..."

Álvaro de Campos